16/08/11

William J. Bratton e a Scotland Yard

A comunicação social, de uma forma geral, durante a primeira quinzena de Agosto, deu um forte destaque aos motins e à política securitária britânica. O que não é de estranhar. Contudo, aquilo que maior reflexão suscitou no meu espírito foi a vontade demonstrada pelo poder político inglês, in casu David Cameron, em nomear William Bratton, um norte-americano internacionalmente conhecido pelo seu trabalho à frente da polícia de Nova Iorque, sobretudo num período mais conturbado (entre 1994 e 1996), tendo sido apelidado de "super-polícia", para vir a substituir o mais graduado polícia do Reino Unido. O percurso profissional deste dirigente, como sabemos, não é novidade para quem já estudou estas temáticas.

Entretanto, parece que a pressão das chefias policiais levou o primeiro-ministro a recuar nas suas intenções, continuando em aberto a possibilidade de o "super-polícia" ser nomeado Conselheiro do Governo em matéria de ordem pública (o que já não será tão insólito se pensarmos que, por exemplo, neste momento temos vários profissionais da polícia portuguesa a exercer funções de assessoria em forças policiais de diversos países).

Ora, este episódio, no mínimo, suscita-me três observações (na qualidade de professor de sociologia do desvio e da violência no ensino superior): 

a) O poder político, naquele país (europeu) ainda não percebeu que as forças policiais "vão até onde lhes permitem", ou seja, um país tem uma Polícia tanto mais autoritária e musculada quanto o sistema o permitir. E, se é certo que é fundamental uma liderança forte, não é menos certo que a força de uma polícia assenta sobretudo no apoio da legislação em vigor e na legitimação do uso da força (o que é uma variável de difícil gestão numa sociedade onde proliferam inúmeras sociedades defensoras dos mais diversos direitos (e os deveres?) e onde o uso da força é de tal forma alvo de um escrutínio inibidor que o seu uso, ainda que balizado pela Lei, leva a muitos profissionais ponderarem a sua utilização;
b) Em segundo lugar, David Cameron demonstra desconhecer aquilo que é o papel de um Líder, sobretudo numa Instituição fortemente hierarquizada e assente em valores de disciplina e obediência. Longe vão os tempos em que o "peso dos galões" era suficiente para impor respeito. Os tempos mudaram. Exigem-se lideranças inspiradoras. Líderes com ascendente, que partilhem os mesmos valores que os seus subordinados. Qualquer "exército", como é óbvio, deve rever-se no seu "Comandante". É um princípio fundamental. Recorrer a um norte-americano para o lugar mais importante na hierarquia policial britânica era um verdadeiro erro com consequências irreversíveis;
c) Finalmente, fico satisfeito por, paulatinamente, as pessoas começarem a perceber que o valor primeiro de uma sociedade evoluída e livre é a Segurança. Sem "ela" não é possível viver em sociedade e desenvolver em harmonia todos os outros pilares. Daí que apostar, sem discursos populistas, nos homens e mulheres que vestem uma farda diariamente não pode ser encarado como um custo, mas sim um investimento. Urge, pois, inverter a ordem das prioridades.