18/08/10

Divagações

O meu saudoso avô foi um distinto causídico do Norte, onde exerceu advocacia e chefiou o contencioso da Casa do Douro antes do 25 de Abril. Aquando do seu falecimento os órgãos de comunicação social deram o relevo merecido, dando à estampa a expressão de um raro orgulho materializado em tinta e papel que hoje ostento no meu gabinete. Formado na Universidade de Coimbra aquele Homem era uma referência para a nossa família: pela nobreza de valores, pela postura, elevação, rectidão, pelo intelecto, pelas causas nobres que defendia, pela força das suas palavras, pela mestria como dedilhava a sua guitarra de Coimbra, enfim, tudo aquilo que, na altura, eu julgava ser o perfil normal de um Advogado em Portugal.

Em larga medida, o saciamento ao meu apelo para a conclusão do curso jurídico, esteve intimamente relacionado com este aspecto. Mas também para satisfazer um (relativamente) antigo desejo da família que, ao ver-me abraçar uma formação de índole policial universitária, ficaram com a (natural) convicção de que "passei ao lado" de uma carreira brilhante que aguardava simplesmente a minha chegada. No entanto, volvidos estes anos, considero -  cada vez mais - que a minha opção foi a mais acertada. É que, ao contrário do declínio vertiginoso do estatuto de um Advogado em Portugal (e falo do que sei pois lido e conheço muitos profissionais) a dignidade, o prestígio e o poder simbólico hodierno de um Oficial de Polícia é, indubitavelmente, crescente.


(In)Felizmente para o meu avô, já não se encontra entre nós. Pois não iria acreditar naquilo que se tornou o seu hábito.